sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Premiação Concurso Literário Pérola da Lagoa

Ao abrir o email hoje cedo, recebi a notícia da premiação. O conto 'A História da Tapera' recebeu o 1º lugar no Concurso Literário Pérola da Lagoa. Fazia tempo que não mandava nada, e muito menos escrevia, fiquei muito feliz com a premiação, fez com que meu coração enxergasse que eu não posso abandonar a poesia.

A História da Tapera
O dia era frio, mudara assim como um piscar de olhos, a garoa era fina, mas suficiente para fazer barro na estrada que passa ao lado. Pelo clima, o passeio e os jogos das crianças que brincavam por ali haviam acalmado. O fogão a lenha esquenta a casa e as pessoas que estão ali. Na velha tapera no outro lado da estrada, Dona Maria, meio adoentada, bordava uns vestidos que a neta deixou quando passou por lá dias atrás. Lembrava feliz do rosto da neta, tão lindo e tão parecido com o da mãe. Perdera a filha para os compromissos, para o cotidiano, e para as indiferenças. A vida encurtava seus sonhos e desejos a cada dia, pequenos pedaços de um livro sem fim.
O leiteiro chegou trazendo as mesmas encomendas de sempre, também trazia noticias do lugar que nunca conheceu. Não haviam remédios nem como comprá-los, por isso a doença ficava cada vez pior. Era agosto, inverno dos mais rigorosos do sul, o leiteiro vinha com freqüência , e ficava uns momentos com ela, a fazia sorrir e esquecer as dores do corpo e da alma. No final da tarde, um barulho estranho lhe apertou o peito, de dor e de medo. Um carro vermelho entrava na ‘porteira’, não sabia dizer se era moderno, quase nem os conhecia. Reconheceu apenas a voz da neta, com certeza viera buscar o bordado que fez com um carinho maior do que ela, terminou a tempos, mas não tinha como avisá-la.  Outra voz então chegou a pequena sala, que abrigava também a velha máquina de costura, um antigo baú de família e um cachorrinho, tão velho e tão adoentado quanto ela. A voz que chegou ela conhecia, mas subitamente lhe vinha algo tentando lhe dizer que não deveria conhecer. O sonho daquele reencontro estava na sua frente, e ela não sabia nem o que deveria fazer.
Isabella, filha de Dona Maria, rendeu-se as correrias e ao destino que as afastou, criou coragem e procurou a mãe. Havia ficado sabendo através da filha, que visitava a avó com freqüência, sobre a doença, se preocupou e esqueceu todas as magoas que quando moça causou e sentiu.  Dois dias, e os pulmões de Dona Maria estavam cada vez piores, o frio do sul insistia em ser forte. À noite, o silencio na pequena casa preocupou o coração de Isabella. Levantou-se e seguiu ao quarto da mãe. Dona Maria não resistiu, o setembro chegara para levá-la. Morrera feliz, reencontrou a filha e neta, lhe bordou o vestido de casamento, sabia que o escolhido era um bom rapaz e encheu os olhos de lágrimas ao saber que havia um bisneto a caminho.
       Ela acabou o bordado, ela abraçou Isabella, ela sorriu e deixou a pequena tapera.



Emanuelle Freitas