É fevereiro e o sol ainda acorda a todos com raios quase insuportáveis de verão, partimos em busca de memórias, em busca de verdades, em busca de histórias que ainda não conhecia. O destino era a Vila Ana Vitória, nome herdado pela precursora daquele vilarejo, minha bisavó paterna. Era isto que eu precisava, novas histórias que me pusessem mais perto daquela realidade, daquele mundo tão próximo a mim, porém tão distante.
Ruazinhas, igrejinhas, estradinhas e casinhas, um diminutivo tão delicado e tão real. Logo vejo o único campo de futebol existente naquele lugar, a única diversão daquelas pessoas, esquecidas e m seu simples e encantador lugar. E as lembranças da minha infância retornam a meu pensamento, o campo onde a muito tempo meu avô, meu pai e me tio dividiram com mais uma dúzia de parentes. Estar aqui, é como estar sentada em baixo da figueira do sitio escutando meu avô contar uns contos, é tudo tão real e igual a tudo que ele me contou ser. Tudo simples, mas o calor e o carinho que eles guardam para a nossa chegada, é inexplicável. Nos esperavam com a mesa repleta de delicias preparadas desde o dia anterior para o nosso café. É incrível como as lembranças são fortes, a figueira na entrada, as estufas de fumo, plantações, o açude antes repleto de peixe e hoje vazio, por causa de algum ‘guri’ que andou fazendo ‘arte’ por lá.
Mas acima de tudo, o mais curioso nesta família é a semelhança que eles passam a ter ao longo dos tempos, tanto na forma irônica e debochada de contar causos, como na fisionomia, aquela pele bronzeada pela lavoura, os olhos felizes e o sorriso encabulado. Hoje, aqui neste lugar, me sinto realmente em casa, este é o mundo meu, este é o lugar que sempre quis estar, é o lugar das histórias que escutei quando pequena, é o lugar das aventuras e de tantos amores de toda uma família. Me permiti retrilhar os caminhos dos meus bisavôs, primeiros moradores daquela localidade, das lembranças de infância do meus avô e seus dez irmãos, os esconderijos nas casas dos tios do meu pai e meu dindo. Conheci casas novas, e também somente o que restou de onde um dia alguém viveu, me aproximei daqueles que sempre quis ter por perto, refiz planos e fiz promessas.
Por fim, descobri que não posso permitir esta distancia, duas horas e poucos quilômetros apenas não podem afastar uma história de mais de 100. E na despedida fica a promessa de não ficar tanto tempo distante, a promessa de outras visitas, a felicidade por levar alguém junto comigo para conhecer tudo aquilo que gosto tanto, e se encantar com a simplicidade e beleza. Gerações reunidas por um único motivo, honrar e retribuir o carinho e afeto que aprenderam um dia a ter.
04 de março de 2012
Sentinela do Sul –RS
Vila Ana Vitória