terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Transitória

Ser intenso, não instantâneo. Um dia passamos. Estamos sempre entre abraços e acenos. Seres terrenos, virando terra. A terra que aqui estava quando chegava a nossa raça, por graça de um Deus ou de o acaso de uma explosão, que fez tudo e, sobretudo fez a todos um pouco de cada um. Nenhum é mais  que nada do que uma parte única da teia total sem a qual a vida morre. Ninguém nos socorre, estamos nas mãos de um deus que em nossas mãos mora. Não demora outra explosão haverá. A culpa , de quem será ? Do Deus, do homem, dos dois ? Não importará depois a culpa , a desculpa. Se a vida viver, sobreviver, se mudar-mos o passo, passaremos sem virar passado.  É que a vida não cessa, regressa ao começo. Reconheço – não como antes. O caminhante vira caminho, já não anda sozinho, esta onde estamos. Todos viramos este único ser que segue a crescer com suor, com fome, que não sei o nome, com sonho e com dor, com riso e amor, incompleto, permanente, que tem  cheiro de gente e alguns chamam vida. Vida, trânsito, história, transitória, imprecisa, que precisa dos vivos, dos que tem asas e não tem lugar e tem lugar em qualquer casa, que tem em brasa os pés e mais fé nos braços que nas promessas, que recomeça o que não tem fim e que finda o que seria enterno, que é terno ainda que embrutecido, que é esquecido mas não esquece e tece  por caminhos tortos a continuação de seus mortos e a redenção de seus vivos. Quem saberá o motivo de tanta esperança, que não espera e alcança o que esta ao alcance da mão, que não diz não, que a mão estende e entende que não fazer o bem é também fazer o mal. Afinal, quem tem e não reparte não sabe que um dia parte sem levar bagagem. A viagem começa assim, desnuda. Depois muda, se veste e depois se traveste de carro , roupa, dinheiro, poder, ambição e, ao fim, sim, muda, uma única muda de roupa acompanha o corpo inerte. Quem tem e não se tem não é. É que se eras o que tinhas e o que detinhas agora é de outros, o que de ti sobra ?     A vida cobra um alto preço, apreço, solidariedade, fraternidade, abraços, sorrisos, se for preciso até pranto, canto, encantamento, às vezes arrependimento, razão, sonho. Começo, recomeço, justiça e tudo que não esta a venda e tudo que a todos foi dado, que de alguns foi roubado, que não esta no supermercado e dirá quem fomos quando formos embora e teu nome de agora seja amanhã pronunciado pelos teus pares – apesar dos pesares – vivo estarás. Tu que nada tinhas, que nada detinhas, que estava em tudo, sobretudo em todos, a terra voltarás, teia serás, invisível, permanente, presente, vivo estarás, porque sendo tudo, sobretudo tos, quando faltar o teu corpo nada te faltará.


E-mail recebido de: Fernando/ Mauricio - Cantos de Luta e Esperança - Ano IX

Nenhum comentário:

Postar um comentário