Ele trazia nos olhos uma sinceridade que exalava a todos que por ele passavam. O coração era bom, e sempre se preocupava com o coração dos outros. Ele era um amante da vida, um amante do verde, das coisas da vida e do tempo. Com esse homem correto, aprendi grandes lições, de respeito, amor e justiça. Dizia que um homem justo, se conhecia ao longe, e não era preciso falar. Sabia das coisas da chuva e dos temporais, e contava sempre, para a lembrança não falhar. Era bonito e charmoso, por dentro e por fora, contava também que o destino pregava peças aos montes, e que quase ninguém podia adivinhar. Numa destas este que pregava as peças o levou, sem avisar ou contar a ninguém, como ele dizia. No meu coração de menina, ficou apenas lembranças, e as saudades. Dos dias que passamos juntos passeando pelo campo, das tardes intermináveis em baixo da figueira contando os maracujás. Saudade das brincadeiras e do carinho, das risadas e das bobagens que a gente fazia. Num dia destes, estava deitada na varanda, descansando a mente e os olhos um pouco, olhei pro céu, fechei meus olhos e num sopro do vento senti o cheiro mais marcante que eu já conheci, em toda minha vida. Senti o cheiro do meu avô, o meu mestre, aquele que eu abraçava e deitava no ombro para dormir mesmo depois de grande. Era um cheiro diferente, parecido com o cheiro do meu outro avô, senti saudades então dos dois. E das coisas que eu aprendi. Percebi que eu havia crescido e que este maldito destino já havia os levado a tempos, tempo demais, que impossibilitava a minha tentativa de traçar outros caminhos. Eu não posso mais trazê-los de volta, e não posso mais deitar no braço, nem pescar, nem contar maracujás mais. E o que me resta apenas é guardar no coração a lembrança e o amor, que eu sempre tive e sei que eles deixaram para mim.
para todos que sentem saudade do misterioso cheiro de avô
Emanuelle Freitas